quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O legado dos movimentos sociais dos anos 70

       Os movimentos sociais dos anos 70-80 legaram à sociedade brasileira como experiência inédita e de fundamental importância à constituição de uma sociedade verdadeiramente democrática.
 O objetivo dessa abordagem é menos contrariar algumas análises que nos parecem depreciativas e equivocadas dos movimentos e mais realçar a importância daquilo que os movimentos nos deixaram para o enfrentamento dos problemas que nos traz a globalização econômica, de modelo neoliberal, entre os quais, o problema do desemprego e o da exclusão social. Como se sabe, a urgência no tratamento dessa questão tende a facilitar ações apressadas, imediatistas e certamente paliativas.

        De fato, foi como o surgimento de uma nova sociedade, uma sociedade que, em face dos constrangimentos à vida social e política impostos pelo regime militar, soube criar novos espaços de interlocução públicos, revelando uma capacidade política da qual se tinham dúvidas e mostrando-se portadora de princípios e valores democráticos.

         A diminuição do número de movimentos nos anos 90 não deve ser tomada como indicador de debilidade. Esta, menos pelo caráter efêmero e intermitente que marca os movimentos populares, poderia ser dada pela forma anacrônica de sua organização verticalizada, centralizada e antidemocrática, pretensamente de vanguarda, mas que, longe de aglutinar e integrar os setores populares afasta-os do processo de lutas, e toma o seu lugar, como razão iluminada, mas que se revela insensível à demanda de participação que se registrou nos setores populares urbanos nos anos 80 uma forma de organização que, apesar de superada pela maioria dos movimentos recentes, ainda não foi de todo apagada da memória nem da prática de muitos grupos e lideranças que se consideram os eleitos pela história, com a "missão" de impor a todas as demais categorias e classes o “único e real” projeto histórico de uma verdadeira democracia.


Assim considerando, indicar o refluxo dos movimentos pela constatação de sua pouca visibilidade e fundado na consideração de uma nova conjuntura política, marcada por uma nova forma da luta de classes e lugar de conflito, assinalando a entrada em cena de novos atores, como as ONGs, por exemplo, corresponde, apenas, ao registro descritivo, perfeitamente plausível e congruente com aquilo que os movimentos nos legaram, ou seja: novo espaço de interlocução público, o que não é nada pouco, volta a dizer, pois é nesses espaços que se pode abrigar a pluralidade dos atores e coletivamente construir a democracia.
Tentar desqualificar esse processo de conquista de direitos e de uma noção de cidadania construída a partir da ação coletiva, reduzindo o à evidência quantitativa dos movimentos, o que faria supor, considerando sua menor visibilidade pública nos anos 90, o fracasso de todo o processo anterior, corresponde a uma abordagem estéril, deslocada no tempo e, talvez por isso mesmo, antidemocrática, antipolítica, especialmente quando essa desqualificação ocorre para sair em defesa de um marxismo que, certamente, o próprio Marx, cuja genialidade deve ser sempre celebrada, ajudaria a enterrar. E aqui falo daquelas abordagens que ainda celebram o Marx de A questão judaica, cuja crítica dos direitos não abole apenas a ideia de cidadania liberal, mas a própria dimensão simbólica da cidadania, como "ideia-força", e, sem dúvida, também como história, conquistas que nos legaram os movimentos sociais em mais de dois séculos de lutas.
          Com efeito, rememorar os movimentos dos anos 70 naquilo que eles nos legaram como conquista democrática parece-me importante como ponto de partida de uma reflexão necessária para o enfrentamento dessa realidade que se coloca diante de nós de maneira perversa, e cuja superação só pode ser dada nos marcos de uma prática efetivamente democrática.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CASTEL, Robert. As metamoifoses da qllestão social. Petrópolis: Vozes, 1998.
COUTO, Mruia C.E. As duas realidades presentes em um movimento social popular. São Paulo, 1987. Disseltação (Mestrado em Serviço Social) -Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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Por Felipe Franco

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