sábado, 16 de novembro de 2013

Mulheres contra a ditadura – expressões culturais femininas contra a ditadura militar nos Anos 70.

Durante a década de 1970, no auge do totalitarismo, três brasileiras usaram o cinema para exaltar a liberdade das mulheres. Cada uma usou uma estratégia diferente para tratar a questão.

Enqanto Tereza Trautman enfrentou o julgamento moral do regime ao produzir um filme sobre a liberação sexual feminina, Helena Solberg deixou o Brasil para realizar documentários de cunho político, que davam destaque às condições do trabalho feminino. Já Ana Carolina, engajada no cinema autoral, driblou a censura com roteiros irônicos sobre a opressão às mulheres.
Em 1971, Helena Solberg trocou o Brasil pelos Estados Unidos. Longe da ditadura e da censura, pôde trabalhar
com mais autonomia. Acompanhando a contracorrente política e transcendendo sua inspiração inicial no Cinema Novo, retratou em seus documentários mulheres pobres e trabalhadoras da América Latina.
Essa temática é vista, por exemplo, em seus dois primeiros trabalhos, La doble jornada (A dupla jornada) e Simplemente Jenny. Em 1982, Solberg voltou ao país para rodar Brazilian connection (A conexão brasileira), que trata dos 18 anos de ditadura militar.
Mas o trabalho da cineasta não foi exibido no Brasil naquela época, exceto La doble jornada, que teve uma sessão para poucos espectadores no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1977. 
Já Ana Carolina se posicionou contra a ditadura por meio da ironia. “Ela tinha um jogo de cintura que a ajudou muitas vezes a escapar da censura”, explica a historiadora Ana Maria Veiga. Na trilogia Mar de rosas, Das tripas coração e Sonho de valsa, usou a linguagem popular para combater a opressão militar e exaltar a liberdade das mulheres.
Das tripas coração teve como tema a liberação das fantasias sexuais dentro de um colégio de freiras. O filme, com cenas que mostram o desejo homossexual feminino, foi considerado imoral, um atentado contra a igreja católica. Interditado durante quase um ano, finalmente foi liberado na íntegra para exibição nos cinemas.
Acima: Sonho de Valsa, 1987 - Filme completo.

Por Natália Lisboa

Os Movimentos Sociais Urbanos nos anos 70 e 80: um Balanço Historiográfico

   Nas últimas duas décadas o debate político brasileiro tem abordado uma gama extensa de temas, dentre eles a emergência e consolidação dos chamados movimentos sociais, tanto os de origem rural, como o MST, quanto os urbanos, a exemplo dos Movimentos dos Sem-Teto. Quando em sintonia com a “redemocratização”, os movimentos sociais urbanos e suas demandas impuseram-se na agenda política.
          A definição do que sejam os movimentos sociais urbanos, atuantes desde fins dos anos 70 e início dos 80, é uma tarefa teórica difícil. Contudo, com a emergência de uma vasta gama de ações coletivas, mobilizações e o aparecimento de inúmeras organizações nos centros urbanos, generalizou-se o uso do termo que deixou de ser sinônimo de movimento operário.A dificuldade conceitual é tanta que certos autores propõem diferenciar os movimentos sociais não somente dos movimentos operário e camponês, como também de outras manifestações sociais presentes no espaço urbano: movimentos étnicos, feministas, gays, ecológicos, pacifistas etc.
      Outros autores, a exemplo Maria Gohn, distinguem movimentos sociais urbanos de movimentos sociais populares urbanos, visto que os movimentos sociais urbanos possuem uma dimensão que é predominantemente popular, porém, não são exclusivamente movimentos populares, existindo também movimentos cuja base social é a classe média, o que significa que os movimentos sociais urbanos não possuem uma nítida distinção de classe. Os movimentos sociais puseram em curso ou manifestaram uma nova cultura política, assentada na noção de comunidade.
       A definição de movimentos sociais de alguns autores está carregada de idealismo e expressa, antes de qualquer coisa, os desejos do autor. Este tipo de interpretação sobre os movimentos sociais urbanos e suas funções será profundamente relativizada, quando não negada, por pesquisadores brasileiros, que rejeitam o papel transformador destes movimentos, apontando três fatores que os caracterizam e ao mesmo tempo dificultam sua análise: a) a heterogeneidade e complexidade das suas bases sociais; b) a adoção de formas de mobilização que se dão fora dos canais tradicionais de representação (partidos e sindicatos); c) a especificidade das suas demandas, isto é, o caráter tópico das suas lutas.
        É, portanto, uma interpretação que não constrói uma simetria entre movimentos sociais urbanos e classes sociais, nem os concebe voltados à transformação global da sociedade e muito menos portadores de uma “utopia alternativa”. Uma outra discussão que dividiu as opiniões no tocante à definição dos movimentos sociais urbanos diz respeito ao caráter revolucionário ou reformista destes movimentos.
 

Por Nayany Dutra

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

CEIV (Comissão Especial de investigação de atos de Vandalismo em Manifestações Públicas) : O DOI-CODI das manifestações atuais.

Para quem não sabe, o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) era um órgão de investigação do exército destinado a suprimir quaisquer manifestações e tentativas de questionar a ditadura militar, sendo responsável pelo sumiço e morte de várias pessoas. Parece ser clara a inspiração do Governador no DOI-CODI para a criação da CEIV. O art. 1o tem mais conteúdo administrativo e não vem ao caso, mas os arts.  2o e 3o são verdadeiras monstruosidades antidemocráticas, e merecem comentários próprios. Vejamos:
Art. 2º. Caberá à CEIV tomar todas as providências necessárias à realização da investigação da prática de atos de vandalismo, podendo requisitar informações, realizar diligências e praticar quaisquer atos necessários à instrução de procedimentos criminais com a finalidade de punição de atos ilícitos praticados no âmbito de manifestações públicas.
O que seriam “todas as providências necessárias à realização da investigação”? Tortura? Sequestro? Essa redação é típica de ato de exceção. A realização de investigação criminal é privativa de delegado, expansível no máximo para o Ministério Público (com controvérsias, diga-se), e, em casos excepcionais, para CPIs, sempre com autorização constitucional. A Constituição veda que o poder executivo, fora da polícia judiciária, investigue crimes. Investigação de crimes por órgãos do poder executivo fora da polícia judiciária é típico de regimes fascistas, onde se usa desse expediente para fins políticos de perseguição de minorias e oposicionistas. Qualquer crime praticado em manifestações públicas deve ser investigado e punido como se tivesse sido praticado fora da manifestação. O fato de ter sido cometido em manifestação política não qualifica e nem desqualifica o crime.
Art. 3º. As solicitações e determinações da CEIV encaminhados a todos os órgãos públicos e privados no âmbito do Estado do Rio de Janeiro terão prioridade absoluta em relação a quaisquer outras atividades de sua competência ou atribuições.
Parágrafo Único – As empresas Operadoras de Telefonia e Provedores de Internet terão prazo máximo de 24 horas para atendimento dos pedidos de informações da CEIV.
Esse artigo é o fim da democracia. De acordo com esse decreto, fica revogado o direito de sigilo do cidadão fluminense. Entidades privadas como bancos e operadoras de telefonia estariam obrigadas a entregar toda e qualquer informação nossa ao CEIV. Essa medida é tão ilegal que até mesmo a polícia, para investigar crimes, precisa de autorização judicial para poder quebrar o sigilo fiscal, bancário, telefônico e de dados dos cidadãos. E ainda assim os juízes só podem conceder autorização se a autoridade policial demonstrar que essa quebra é fundamental para as investigações. Sigilos só podem ser quebrados em última instância, mas não para o Governador Cabral e sua CEIV.


FONTE: http://www.viomundo.com.br/denuncias/sergio-cabral-o-policial-infiltrado-e-o-doi-codi-particular.html


Por Marcos Renaud

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O legado dos movimentos sociais dos anos 70

       Os movimentos sociais dos anos 70-80 legaram à sociedade brasileira como experiência inédita e de fundamental importância à constituição de uma sociedade verdadeiramente democrática.
 O objetivo dessa abordagem é menos contrariar algumas análises que nos parecem depreciativas e equivocadas dos movimentos e mais realçar a importância daquilo que os movimentos nos deixaram para o enfrentamento dos problemas que nos traz a globalização econômica, de modelo neoliberal, entre os quais, o problema do desemprego e o da exclusão social. Como se sabe, a urgência no tratamento dessa questão tende a facilitar ações apressadas, imediatistas e certamente paliativas.

        De fato, foi como o surgimento de uma nova sociedade, uma sociedade que, em face dos constrangimentos à vida social e política impostos pelo regime militar, soube criar novos espaços de interlocução públicos, revelando uma capacidade política da qual se tinham dúvidas e mostrando-se portadora de princípios e valores democráticos.

         A diminuição do número de movimentos nos anos 90 não deve ser tomada como indicador de debilidade. Esta, menos pelo caráter efêmero e intermitente que marca os movimentos populares, poderia ser dada pela forma anacrônica de sua organização verticalizada, centralizada e antidemocrática, pretensamente de vanguarda, mas que, longe de aglutinar e integrar os setores populares afasta-os do processo de lutas, e toma o seu lugar, como razão iluminada, mas que se revela insensível à demanda de participação que se registrou nos setores populares urbanos nos anos 80 uma forma de organização que, apesar de superada pela maioria dos movimentos recentes, ainda não foi de todo apagada da memória nem da prática de muitos grupos e lideranças que se consideram os eleitos pela história, com a "missão" de impor a todas as demais categorias e classes o “único e real” projeto histórico de uma verdadeira democracia.


Assim considerando, indicar o refluxo dos movimentos pela constatação de sua pouca visibilidade e fundado na consideração de uma nova conjuntura política, marcada por uma nova forma da luta de classes e lugar de conflito, assinalando a entrada em cena de novos atores, como as ONGs, por exemplo, corresponde, apenas, ao registro descritivo, perfeitamente plausível e congruente com aquilo que os movimentos nos legaram, ou seja: novo espaço de interlocução público, o que não é nada pouco, volta a dizer, pois é nesses espaços que se pode abrigar a pluralidade dos atores e coletivamente construir a democracia.
Tentar desqualificar esse processo de conquista de direitos e de uma noção de cidadania construída a partir da ação coletiva, reduzindo o à evidência quantitativa dos movimentos, o que faria supor, considerando sua menor visibilidade pública nos anos 90, o fracasso de todo o processo anterior, corresponde a uma abordagem estéril, deslocada no tempo e, talvez por isso mesmo, antidemocrática, antipolítica, especialmente quando essa desqualificação ocorre para sair em defesa de um marxismo que, certamente, o próprio Marx, cuja genialidade deve ser sempre celebrada, ajudaria a enterrar. E aqui falo daquelas abordagens que ainda celebram o Marx de A questão judaica, cuja crítica dos direitos não abole apenas a ideia de cidadania liberal, mas a própria dimensão simbólica da cidadania, como "ideia-força", e, sem dúvida, também como história, conquistas que nos legaram os movimentos sociais em mais de dois séculos de lutas.
          Com efeito, rememorar os movimentos dos anos 70 naquilo que eles nos legaram como conquista democrática parece-me importante como ponto de partida de uma reflexão necessária para o enfrentamento dessa realidade que se coloca diante de nós de maneira perversa, e cuja superação só pode ser dada nos marcos de uma prática efetivamente democrática.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEVIDES, Maria Victória de M. A cidadania ativa. São Paulo: Ática, 1991.
CASALDÁLIGA, Pedro, Dom. Santo guerreiro. RevistaAdusp, Associação dos Docentes da USP, Seção Sindical da Andes -SN -n.1 O, p.6-14,jun. 1997. Entrevista concedida a Marcos Cti pa.
CASTEL, Robert. As metamoifoses da qllestão social. Petrópolis: Vozes, 1998.
COUTO, Mruia C.E. As duas realidades presentes em um movimento social popular. São Paulo, 1987. Disseltação (Mestrado em Serviço Social) -Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
GOHN, MaJia da Glória. Os sem-terra, ONGs e cidadania. São Paulo: COItez, 1997.
LEFORT, Claude. Os direitos do homem e política. In: A invenção democrática. Os limites do totalitatismo. São Paulo: Brasiliense, 1987. p.37-69.
PAOLI, Matia Célia. Trabalhadores e cidadania, experiência do mundo público na hislótia do Brasil moderno. USP Estudos Avançados, v.3, n.7, p.40-66, set./dez. 1989.


Por Felipe Franco

sábado, 19 de outubro de 2013

O teatro como movimento crítico do contexto da sociedade nos anos 70

A prática teatral nos anos 70, registrou a politização, como forma de reação dramatizada, dos excessos do capitalismo através das injustiças sociais; das forças de manipulação da cultura; da vida do cidadão e da livre expressão. Momento em que muitos artistas se interessaram em fazer peças com conteúdos sociais manifestos, onde a temática no palco, abordava forças sociais com sentido explicitamente crítico à situação em que a sociedade brasileira se encontrava, os temas eram especialmente voltados para a classe trabalhadora, o cidadão comum explorado. Um contexto identificado entre as demais insatisfações manifestadas em outras formas de expressão.
Sob a orientação de um projeto de esquerda nacional popular, a dramaturgia contava com notáveis escritores como Augusto Boal; Jean Francesco Guarniere; Plínio Marcos; Vianinha; Chico de Assis e outros. Todos do chamado teatro politizado. 






Por Denise Almeida

Movimento de Saúde

Outro movimento reivindicativo de ação direta que nasceu em meados da década de 70 e floresceu intensamente  na primeira  metade dos anos 80 e conseguiu sobreviver à década de 90 foi o movimento de Saúde.
O perfil do MOS é inicialmente marcado por um tom alternativo-comunitarista disseminado pelas pastorais de saúde da igreja católica, inspirado em métodos naturalistas, plantas medicinais e remédios caseiros. Há uma profusão de caderninhos e cartilhas orientados por esse sentido tosco, um tanto ruralista no trato de problemas da saúde.
Além desta marca do “Alternativo” deixado originalmente pela Igreja Católica no MOS, também o espírito assistencialista foi  inicialmente o companheiro número um da ação das pastorais.
Ainda sob a ditadura militar, os chamados grupos de bairro organizados pelo trabalho da igreja  em São Paulo começaram a interagir com diversos profissionais e entidades da área de saúde, entre estudantes, médicos – especialmente sanitaristas – e servidores.
O MOS, segundo Ana Maria Doimo em sua obra “A vez e a voz do popular”, foi um dos mais bem sucedidos movimentos reivindicativos de ação direta no que se refere a institucionalização de canais legais de controle e participação em políticas públicas. Torna-o, também, um dos únicos movimentos de amplitude nacional que inicia a década de 90 com perspectivas de continuidade e com desenvoltura para referir-se à participação na esfera política institucional sem a ojeriza e a alergia, tão próprias do campo popular.


 Bibliografia:
  • DOIMO, A. M. A vez e a voz do popular: movimentos sociais e participação política no Brasil pós-70. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.

Por Eros Augusto

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Movimento do Tranporte Coletivo (MTC)


Movimento do transporte coletivo

O movimento do transporte coletivo foi organizado nas principais regiões metropolitanas do Brasil., mas presente também em localidades como Cubatão (SP), Londrina (PR), Campina Grande (PB), entre outros.
Ele foi, curiosamente, de acordo com Ana Maria Doimo, antropóloga que ganhou o prêmio ANPOCS 1994, o que teve menor presença da Igreja oficial e contou com mais militantes da esquerda marxista não tradicional. A maior aproximação da esquerda justifica-se, por que a carência de transporte coletivo no espaço urbano sempre foi saudada como aquela que mais se aproxima das relações capital VS trabalho.

Um dos principais efeitos que o MTC teve, nas grandes capitais brasileiras, foi o de paralisá-las. A produção das mercadorias e os serviços foram inviabilizados pela impossibilidade do comparecimento da mão-de-obra aos locais de trabalho. Este fato foi histórico e inédito, pois a cidade não conhecia o poder de estrutura da circulação. (...) Os transportes adquiriram uma centralidade nunca antes conhecida.

Segundo Ana Maria Doimo, o MTC se desmobilizou no período de reforma partidária (1980) e nos momentos de conjuntura eleitoral (1982 e 1986).


Cartaz usado em julho/13 em uma das manifestações contra o aumento da tarifa do transporte coletivo que eclodiram por todo o Brasil.


A evolução do MTC, seria hoje o equivalente ao movimento do passe livre. O MPL foi constituído numa plenária realizada em janeiro de 2005 no Fórum Social Mundial em Porto Alegre, a partir de grupos e coletivos que pautavam a luta pelo passe livre estudantil em várias cidades brasileiras .
Em 2013 MPL ganha destaque na grande imprensa e a Tarifa Zero passa a ser tema de ampla discussão política após as grandes manifestações ocorridas em junho no país, as quais tiveram em grande parte como origem a mobilização do MPL de São Paulo para barrar o aumento das passagens de transporte coletivo na cidade. Ao fim de junho de 2013 mais de 100 cidades do país haviam reduzido a tarifa do transporte, em consequência das manifestações.
A principal bandeira do movimento é a migração do sistema de transporte privado para um sistema público, fato que garantiria o acesso universal através do passe livre. Para o movimento, isto traria um sistema de transporte sem exclusão social. As ações do MPL passam por trabalhos de divulgação, estudos e análises dos sistemas de transporte locais, levando essas informações para diversos grupos dentro das cidades. Outra característica são as manifestações e o uso de ação direta, assim como o MTC, e intervenções lúdicas e leis de iniciativa popular.

 

  • DOIMO, A. M. A vez e a voz do popular: movimentos sociais e participação política no Brasil pós-70. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.




Por Eros Augusto