Durante a década de 1970, no auge do totalitarismo,
três brasileiras usaram o cinema para exaltar a liberdade das mulheres. Cada
uma usou uma estratégia diferente para tratar a questão.
Enqanto Tereza Trautman enfrentou o julgamento
moral do regime ao produzir um filme sobre a liberação sexual feminina, Helena
Solberg deixou o Brasil para realizar documentários de cunho político, que
davam destaque às condições do trabalho feminino. Já Ana Carolina, engajada no
cinema autoral, driblou a censura com roteiros irônicos sobre a opressão às
mulheres.
Em 1971, Helena
Solberg trocou o Brasil pelos Estados Unidos. Longe da ditadura e da censura,
pôde trabalhar
com mais autonomia. Acompanhando a contracorrente política e transcendendo sua inspiração inicial no Cinema Novo, retratou em seus documentários mulheres pobres e trabalhadoras da América Latina.
com mais autonomia. Acompanhando a contracorrente política e transcendendo sua inspiração inicial no Cinema Novo, retratou em seus documentários mulheres pobres e trabalhadoras da América Latina.
Essa temática é
vista, por exemplo, em seus dois primeiros trabalhos, La doble jornada (A dupla
jornada) e Simplemente Jenny.
Em 1982, Solberg voltou ao país para rodar Brazilian connection (A conexão brasileira), que trata dos
18 anos de ditadura militar.
Mas o trabalho da
cineasta não foi exibido no Brasil naquela época, exceto La doble jornada, que teve
uma sessão para poucos espectadores no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,
em 1977.
Já Ana Carolina se posicionou contra a ditadura por meio da
ironia. “Ela tinha um jogo de cintura que a ajudou muitas vezes a escapar da
censura”, explica a historiadora Ana Maria Veiga. Na trilogia Mar de rosas, Das tripas coração e Sonho
de valsa, usou a linguagem popular para combater a opressão militar e
exaltar a liberdade das mulheres.
Das tripas coração teve como tema a liberação das fantasias sexuais dentro de
um colégio de freiras. O filme, com cenas que mostram o desejo homossexual
feminino, foi considerado imoral, um atentado contra a igreja católica.
Interditado durante quase um ano, finalmente foi liberado na íntegra para
exibição nos cinemas.
Acima: Sonho de Valsa, 1987 - Filme completo.
Por Natália Lisboa